segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Dos mins


Sou uma
Sou mil
Mas não posso ser aquela
que você nunca viu

Sou minha
Sou muitas

Perambulo
Mas quase sempre
Estou muito constante

Sou um instante
Sou aquela
Que está sem pressa

Sou tecido
Já teci
Fui retalho
Agora sou colcha
Mas ainda não sei me cobrir

Sou
Tempo passado
Mas um futuro
Jamais esboçado

segunda-feira, 13 de maio de 2013

As Chuvas



Há chuvas pesadas
Que caem em nossas cabeças
Como se fossem marteladas

Leva a criança
O morro
A favela

E enche as notícias
de lágrimas derrubadas

Há chuvas moderadas
Refrescam o dia
E lavam as calçadas

Há chuvas fininhas
Que pingam suaves em nossa pele
Como se fossem formiguinhas

Sua suavidade é saudada
Até mesmo pelas almas mal amadas

Mas chuva boa mesmo
É aquela que pinga nas pessoas
Encharca os pensamentos
de poesia
e enche de versos o dia.

domingo, 31 de março de 2013


Dedicatória:

Á inspiração que me falta
À melodia que não escuto
Ao despertar com encanto
Ao não querer ir aos braços de Morfeus
Pelo simples fato de não poder
Te ver
Te ouvir
Te sentir

[...]
Aos sorrisos não compartilhados
Aos olhares que não ficaram embevecidos
À falta não sentida
À emoção não experimentada
Ao coração que não disparou
À concentração que se foi com o pensar distraído
Ao medo de perder
Ao cultivo não cultivado
Às palavras infantis não ditas
Ao silêncio mais expressivo e singelo que nunca se ouviu
Palavras que dedico
à você que ainda não existiu.

João Pessoa, 15 de março de  2004

Dialogando com Caio Fernando Abreu

Estes ultimas dias andei conversando com Caio Fernando Abreu:

- “Você quer escrever. Certo, mas você quer escrever?”

- Eu não quero escrever. De alguma forma eu preciso. Não me pergunte como.

- “você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheria esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é uma questão de honestidade básica. Essa perguntinha: você quer mesmo escrever? Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo”

- Certo. Vou tentar. Vou tentar ser honesta comigo mesma. E assim escreverei. Mas sabe o que é?
Eu acho que meus impulsos são incontroláveis e tenho alguns desejos meio absurdos...

-“ Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E eu acho — e posso estar enganado — que é isso que você não tá conseguindo fazer.”

- É, talvez. Eu não queria dizer, mas eu gosto de acabar as coisas pela metade. Talvez pelo simples motivo de não ter a sensação do acabado. Estranho? O que que eu faço?

- “Você me pergunta: que que eu faço? Não faça, eu digo. Não faça nada [...]Você tá ansiosa e isso é muito pouco religioso. Pasme: acho que você é muito pouco religiosa. Mesmo. vou te falar um lugar-comum desprezível, agora, lá vai: você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off.

- Acho que você está certo. Quanto a religiosidade e quanto as procuras. Eu bem que queria ter algumas certezas. Mas ao mesmo tempo eu não quero ir em busca delas. Porque ter a certeza, é ter a certeza do sim e do não. E de certa forma eu gosto de quando fecho os meus olhos, porque eu vejo coisas lindas e infinitas... e ter a certeza do sim e do não, agora, me parece desconfortável. Então, se for assim, o que que eu vou achar lá na frente?

- “Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado”

- É preciso estar distraído...?

- "Sobretudo, não se angustie"



[Conversa confusa, mas instigante sobre a escrita]


(as aspas são originárias do texto "Carta ao Zézin", de Caio Fernando Abreu)

O pingo da saudade

Quando o pingo da saudade bate em mim

 i
.

i
.
Fica pingando de pouco em pouco a lembrança de uma época
.
Fica pingando.
.
Fica batendo assim...
Até encharcar toda a minha alma.

bem assim