domingo, 31 de março de 2013


Dedicatória:

Á inspiração que me falta
À melodia que não escuto
Ao despertar com encanto
Ao não querer ir aos braços de Morfeus
Pelo simples fato de não poder
Te ver
Te ouvir
Te sentir

[...]
Aos sorrisos não compartilhados
Aos olhares que não ficaram embevecidos
À falta não sentida
À emoção não experimentada
Ao coração que não disparou
À concentração que se foi com o pensar distraído
Ao medo de perder
Ao cultivo não cultivado
Às palavras infantis não ditas
Ao silêncio mais expressivo e singelo que nunca se ouviu
Palavras que dedico
à você que ainda não existiu.

João Pessoa, 15 de março de  2004

Dialogando com Caio Fernando Abreu

Estes ultimas dias andei conversando com Caio Fernando Abreu:

- “Você quer escrever. Certo, mas você quer escrever?”

- Eu não quero escrever. De alguma forma eu preciso. Não me pergunte como.

- “você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheria esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é uma questão de honestidade básica. Essa perguntinha: você quer mesmo escrever? Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo”

- Certo. Vou tentar. Vou tentar ser honesta comigo mesma. E assim escreverei. Mas sabe o que é?
Eu acho que meus impulsos são incontroláveis e tenho alguns desejos meio absurdos...

-“ Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. E eu acho — e posso estar enganado — que é isso que você não tá conseguindo fazer.”

- É, talvez. Eu não queria dizer, mas eu gosto de acabar as coisas pela metade. Talvez pelo simples motivo de não ter a sensação do acabado. Estranho? O que que eu faço?

- “Você me pergunta: que que eu faço? Não faça, eu digo. Não faça nada [...]Você tá ansiosa e isso é muito pouco religioso. Pasme: acho que você é muito pouco religiosa. Mesmo. vou te falar um lugar-comum desprezível, agora, lá vai: você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off.

- Acho que você está certo. Quanto a religiosidade e quanto as procuras. Eu bem que queria ter algumas certezas. Mas ao mesmo tempo eu não quero ir em busca delas. Porque ter a certeza, é ter a certeza do sim e do não. E de certa forma eu gosto de quando fecho os meus olhos, porque eu vejo coisas lindas e infinitas... e ter a certeza do sim e do não, agora, me parece desconfortável. Então, se for assim, o que que eu vou achar lá na frente?

- “Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado”

- É preciso estar distraído...?

- "Sobretudo, não se angustie"



[Conversa confusa, mas instigante sobre a escrita]


(as aspas são originárias do texto "Carta ao Zézin", de Caio Fernando Abreu)

O pingo da saudade

Quando o pingo da saudade bate em mim

 i
.

i
.
Fica pingando de pouco em pouco a lembrança de uma época
.
Fica pingando.
.
Fica batendo assim...
Até encharcar toda a minha alma.

bem assim