domingo, 26 de maio de 2019

Jari, uma cidade do interior do Amapá.



O Jari é de águas volumosas
Aveludado, nos envolve por todos os lados,
Nos carregando em seus braços  para os seus leitos de rios
Conduzindo a dança do desconhecido.

O Jari  mostra a curva da floresta
Fazendo a gente sentir a raiz de nós.

O Jari de pessoas bonitas e silenciosas
De olhares espremidos e desconfiados,
Amendoados e sinceros
Humaniza os pedaços de chão e de pedra
Por onde passamos.

Porque o Jari, quando terra seca, faz chover em nossa testa, faz suar a nossa alma.
Quando chove, acinzenta olhares, deixa verde a mata e enxarca nossos corações.


Laranjal do Jari, 2 de Julho de 2017.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016


Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho João Pessoa* uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado.

Paredes


Um retrato pendurado na parede cinza.

Uma "conversa" que se segue:
Podíamos ficar aqui até amanhã, o que você  acha? Dormiríamos e essa parede continuaria cinza.
- [...]

Se bem que ao amanhecer, o sol pela manhã iria dar uma nuances de cor amarronzada nela. Daí, não seria tão cinza assim.
- [...]
Eu gostaria de ouvir de você a melhor metáfora para a vida. Você pode me dizer agora? "A vida, é como...?"
Ah, tudo bem, eu te digo a minha melhor metáfora para a vida: A vida é o acumulo de emoções que se guia por uma escada que não se sabe se é de subida ou de descida. Mas que leva acúmulos. Deu para entender? Pensei nisso agora!
Não, não foi essa parede que me inspirou a dizer isso. Foi minha vida mesmo.

Essa parede poderia ser pintada, o que você acha?

- A parede é sua!

Mas o retrato é seu. Leve este retrato, preciso pintar a parede.

O Pontinho

Ficava intrigada por não saber como pode uma palavra ser só meia palavra.

Falavam que os bons entendedores (porque existe os maus) reconhecem uma frase quando se diz apenas meia palavra:
Am...Fel...ami...
E então, não entendia.

E desde que adulta se tornou sempre se maravilhou com o poder que tem as palavras, as ditas e as não ditas. As bem-ditas e as mau-ditas.

Mas nunca conseguiu entender as meias palavras.

Se maravilhava com os poetizadores de esquina e dos livros: "Como eles conseguem encontrar as palavras mais bonitinhas de forma tão certinha?"Se inculcava.

Mas não entendia as meias palavras.

Não sabia de rimas e métricas. Mal se importava se elas apareciam no texto ou não, pois gostava apenas de ficar sonhando com a possibilidade das palavras sendo construídas.

Mal se expressava e nem sabia construir frases de efeito que chocassem as pessoas. Nunca soube construir belos versos poéticos. Mas jamais desejava fabricar palavras má intencionadas.

E as meias palavras ainda não entendia.

Um certo dia começou a dizer tudo pela metade, lia tudo pela metade e escrevia tudo pela metade. Foi então que percebeu que havia algo mais interessante que as meias palavras. Começou a observar que tudo de mais belo escrito, tudo de mais genial, harmonioso e também perigoso acaba com um pontinho. Como pode acabar assim, se um pontinho nem ao menos uma letra é? Se intrigou.

Todas as palavras e as meias palavras juntamente com seus significados acabam com um único ponto.

Isso lhe pareceu injusto, pois quem deveria encerrar alguma coisa deveriam ser as próprias palavras.

Aguçada sua mente pra estas ideias infortunas, logo notou que as meias palavras tem, às vezes, o mesmo efeito do tal pontinho.

Que mesmo sendo pequenas e incompletas dizem muita coisa. O pontinho também é assim: pequeno e diz muita coisa quando surge. Pois, pode encerrar o mais belo texto, o mais horripilante discurso, a metáfora mais encantadora e o sorriso curioso.

Pronto. Ei o homenageado desse texto, que nada quer dizer a não ser ressaltar o óbvio: Toda histórica acaba com ele, o Ponto final.


Ler e Escrever é coisa do passado


Fico pensando se um dia vão ensinar nossas crianças a escrever. Se isso será necessário algum dia: desenhar letras no papel, ensinar como se faz cada curva para se traçar a letra que combinada com outra forma-se uma palavra, que combinada com outras palavras se forma uma frase, um texto...

Vejam bem: já não traço neste texto as palavras que você está lendo!Elas saem do pulsar do meu dedo sobre as letrinhas já desenhadas no teclado e aparecem... Puuff! Apareceram.. quase que de forma instantânea no papel virtual que "escrevo". E isto é tão natural quanto o amanhecer, que de tão óbvio torna-se algo enfadonho.

Estamos em tempos onde a velocidade é o que importa. Mas não tem como não refletir sobre o quanto se gastava tempo escrevendo. Quando se escrevia uma carta para alguém especial parecia que o tempo do escritor ou escritora estavam ali na carta também. Aplicava-se um certo traço, que podia ser forte ou fraco, a caneta ou ao lápis, encurvava-se a letra aos moldes da personalidade de quem escreve e desenha cada letra d palavras. tempo dedicado.

E para apagar? Ficava aquele papel borrado e meio amassado, quase sempre tinha-se que reescrever em uma folha novinha. Sem manchas. Sem máculas.

Hoje, não há papel virtual no mundo inteiro que fica machucado com raiva e o arrependimento de ter colocado algo que não foi muito agradável. Basta um "backspace" ou delete e feito: está apagado e sem deixar marcas!

Bons tempos!
Ou não.



segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Dos mins


Sou uma
Sou mil
Mas não posso ser aquela
que você nunca viu

Sou minha
Sou muitas

Perambulo
Mas quase sempre
Estou muito constante

Sou um instante
Sou aquela
Que está sem pressa

Sou tecido
Já teci
Fui retalho
Agora sou colcha
Mas ainda não sei me cobrir

Sou
Tempo passado
Mas um futuro
Jamais esboçado

segunda-feira, 13 de maio de 2013

As Chuvas



Há chuvas pesadas
Que caem em nossas cabeças
Como se fossem marteladas

Leva a criança
O morro
A favela

E enche as notícias
de lágrimas derrubadas

Há chuvas moderadas
Refrescam o dia
E lavam as calçadas

Há chuvas fininhas
Que pingam suaves em nossa pele
Como se fossem formiguinhas

Sua suavidade é saudada
Até mesmo pelas almas mal amadas

Mas chuva boa mesmo
É aquela que pinga nas pessoas
Encharca os pensamentos
de poesia
e enche de versos o dia.

bem assim