domingo, 12 de dezembro de 2010

Alquimia

Sou uma imagem ambulante
Espelho dos conflitos
Um retrato do presente
Ariana de instante
Partes de um monte de gente
Sou temporal e espacial
Com muitos glichês
E algumas originalidades
Tenho muitas vontades
Sem nenhuma prioridade

sábado, 21 de agosto de 2010

Motriz

Produtores da dor:Uni-vos!
Em grande escala e em grande produção
Não vos preocupeis com o que as pessoas hão de pensar
Preocupeis sim, em como produzir uma amarga dor invisível nos corações!

Produtores da dor, vós nem precisais ser corajosos
Bastais ser infalíveis na arte de lucrar e de serem gananciosos
Reproduzam o retrato da acomodação em grandes quantidades
Para que seu preço seja bastante barato e acessível a maior quantidade de trabalhadores:

Motor que faz tudo na sociedade funcionar
E a quem devemos calar.

Dos tristes olhares



Um metro e quarenta no máximo.

Pele amarronzada, cabelo pixaim bagunçado, com alguns enfeites coloridos em sua cabeleira deixando transparecer um aspecto infantil. Nem sei se a intenção daqueles enfeites era para deixa-la mais bela ou se era só para prender os cabelos que insistiam em balançar com as ondas do vento. Mas eles, de coloridos que eram, se destacavam por alguma razão.

Mãos para traz, com roupas sujinhas e um pouco rasgada. Blusa verde, saia curta e roxa. Seus ombros estavam encurvados, sua cabeça inclinada para a direita, e suas pernas, remexiam num ar de inquietação.

Gente circulando aos montes.

Ela atirava um olhar desconfiado. Ou seria um olhar de medo? De vergonha?

Sei que de tão intensos que eram, de tão fortes os sentimentos que haviam naqueles dois pequenos olhos, que se encontravam meio que perdidos por entre a confusão de um momento sórdido, aquele olhar amarrozado e confuso me estremeceu. Nunca a tinha visto,e me arrependo de não ter perguntado o seu nome. Porque o seu olhar em vez de estar visualizando alguma coisa, gritava (e parecia gritar para mim). E era um grito de desespero e de incomodo. Poderia eu descrever a agonia e a essência destes dois olhinhos fundos e sofridos? (É claro que não!)

Era apenas os olhos de uma menina. Que por certo, queria brincar, correr, estudar, conversar com suas amigas. Mas que violentamente estava sendo roubada. Roubada, em todos os seus aspectos de menina, de criança. Seus olhos agora, só poderiam expressar aquilo que via: Abuso, violência, julgamentos. Podridão.

O que mais ela poderia contemplar?

Sua pureza infantil não estava mais ali. Sua vergonha estava, sua dor estava, e sua miséria ardia.

E era apenas uma menina.


Escrito após uma estúpida e triste cena de abuso sexual infantil na cidade de João Pessoa. Meus olhos estão molhados, de raiva, de dor, de impotência, de amargura, de compaixão. Mas nem de longe, é um olhar igual a daquela menina que gritava com os olhos e que se calava com todo o seu corpo.

sábado, 31 de julho de 2010

Avante!




“Esta é a minha perspectiva. Vejo à frente um tempo em que o homem deverá caminhar para alguma coisa mais valiosa e mais elevada que seu estômago, quando haverá maiores estímulos para levar os homens à ação que o incentivo de hoje, que é o incentivo do estômago. Acredito que a doçura e o despojamento espiritual vão superar a gula grosseira dos dias de hoje. E, no fim de tudo, minha fé está na classe trabalhadora. Como diz um francês: a escada do tempo está sempre ecoando com um tamanco subindo e uma bota engraxada descendo.”

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Sem Ser

Porque eu não tenho ser, e só tenho estar, aprendi a dizer que não sou, mas que estou (e isto espanta muitos). Não interpretem isso como confusão, porque isso é paixão. Porque eu não aprendi a dizer tudo o que se deve dizer nas horas de se estar. É bem mais fácil, e mais desejável sair conjugando por aí o verbo ser em vez do estar, porque é mais fácil falar: "Eu sou uma pessoa feliz"," eu sou uma pessoa completa"," eu sou isso"," eu sou aquilo". Bem, eu não sou! Eu não tenho ser, e não preciso de um. Eu Tenho vontades que mudam, ideias que mudam, sonhos que mudam e que as vezes voam com sentimentos estranhos. Talvez o meu "ser" tenha se perdido por entre os seres que me fizeram assim, com certezas raras e discretas. Mas na boa? Ir atraz de quem eu sou ,correr atraz do meu eu, soa, pra mim, como algo muito brega, quando não soa como perda de tempo mesmo. Na boa mesmo? Tem gente que confundiria isso como crise de identidade. Mas pra mim isso é desculpa para dar dinheiro para analistas.

Quando o vinho desce


O vinho velhok
gfjj vem na taça
gggggggg desce à boca
e quase me desgraça
gfhhhhhhhhhhgescorrega... jjjj
jgjheg rasga minha garganta jjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjjfffff
f chega a alma
hhbbbbgj e me encanta.

sábado, 1 de maio de 2010

Quanto as palavras

Eu não guardo mensagens no meu celular
Eu não guardo mensagens.
Eu escrevo cartas
Eu guardo as cartas
Eu leio cartas.

Eu misturo ideias
Eu imagino quantas musicas o mundo já compôs
Eu não confio muito no tempo
E as vezes prefiro ensaiar ...
Eu também não penso muito no amor
Mas eu amo.

sexta-feira, 5 de março de 2010

A fuga das palavras I

Logo no principio quando o ser humano descobriu o mundo das palavras, perceberam que poderiam ter acesso livre a ele, e que juntos os dois mundos teriam uma grande afinidade. Os seres humanos ficaram abismados com os poderes que as palavras tinham e da forma como elas poderiam lhes serem uteis. Já as palavras, ficaram contentíssimas por saber que a partir daquele encontro elas teriam uma importância como nunca outrora tiveram desde quando foram criadas.

Estonteantes de alegria, as palavras e os diversos seres humanos, foram pouco a pouco se juntando, formando o que hoje nós entendemos ser as frases, e os diálogos.

Na época quando as palavras conheceram os homens e as mulheres, eles eram bons companheiros. As palavras só saiam da boca das pessoas se fosse para dizer a verdade, ou então, elas só eram escritas para transmitir amor e cuidado. Havia momentos em que as palavras nem faziam tanta questão de aparecer, pelo simples fato de não serem suficientemente tão poderosas (como pensavam os humanos) perante alguns sentimentos de homens e mulheres. Sensíveis, as palavras sabiam exatamente o momento correto de aparecer e desaparecer.

Este era um acordo cordial entre as palavras e os seres humanos. As palavras estavam felizes. Os humanos também.

Mas isso faz muito, muito, muito tempo.

bem assim