Um metro e quarenta no máximo.
Pele amarronzada, cabelo pixaim bagunçado, com alguns enfeites coloridos em sua cabeleira deixando transparecer um aspecto infantil. Nem sei se a intenção daqueles enfeites era para deixa-la mais bela ou se era só para prender os cabelos que insistiam em balançar com as ondas do vento. Mas eles, de coloridos que eram, se destacavam por alguma razão.
Mãos para traz, com roupas sujinhas e um pouco rasgada. Blusa verde, saia curta e roxa. Seus ombros estavam encurvados, sua cabeça inclinada para a direita, e suas pernas, remexiam num ar de inquietação.
Gente circulando aos montes.
Ela atirava um olhar desconfiado. Ou seria um olhar de medo? De vergonha?
Sei que de tão intensos que eram, de tão fortes os sentimentos que haviam naqueles dois pequenos olhos, que se encontravam meio que perdidos por entre a confusão de um momento sórdido, aquele olhar amarrozado e confuso me estremeceu. Nunca a tinha visto,e me arrependo de não ter perguntado o seu nome. Porque o seu olhar em vez de estar visualizando alguma coisa, gritava (e parecia gritar para mim). E era um grito de desespero e de incomodo. Poderia eu descrever a agonia e a essência destes dois olhinhos fundos e sofridos? (É claro que não!)
Era apenas os olhos de uma menina. Que por certo, queria brincar, correr, estudar, conversar com suas amigas. Mas que violentamente estava sendo roubada. Roubada, em todos os seus aspectos de menina, de criança. Seus olhos agora, só poderiam expressar aquilo que via: Abuso, violência, julgamentos. Podridão.
O que mais ela poderia contemplar?
Sua pureza infantil não estava mais ali. Sua vergonha estava, sua dor estava, e sua miséria ardia.
E era apenas uma menina.
Escrito após uma estúpida e triste cena de abuso sexual infantil na cidade de João Pessoa. Meus olhos estão molhados, de raiva, de dor, de impotência, de amargura, de compaixão. Mas nem de longe, é um olhar igual a daquela menina que gritava com os olhos e que se calava com todo o seu corpo.